segunda-feira, 2 de março de 2015

Violência contra a mulher, até quando?

Outro dia, aguardando o atendimento num banco, conheci uma senhora que "puxou" assunto comigo enquanto não éramos atendidas. Aquela senhora de uns 60 e tantos anos começou a contar sua história que, conforme ia desenrolando, foi me causando uma sensação de impotência sem tamanho.

Ela me contou que ficara casada por 30 anos com um homem que lhe causou muito sofrimento, pois ele batia nela constantemente, a violentava porque se achava no direito de "toma-la" sempre que tivesse vontade e a obrigava consentir com situações que faziam se sentir muito humilhada: como acolher amantes do marido em sua casa junto com seus filhos. Ela disse que tinha sorte de não ter adquiro uma doença sexualmente transmissível, já que o, agora ex-marido, fora diagnosticado com o vírus HIV por conta de sua vida de "putaria" como ela mesmo descreveu. Eu perguntei como ela tinha aguentado aquilo tudo por tanto tempo e, num tom de ressentimento, sua resposta foi a de que não tinha a quem recorrer e não via como sair daquele inferno, já que ela tinha 5 filhos pequenos e não haveria como suster todos eles e abriga-los, pois não tinha quem a pudesse acolher mesmo passando por tanto sofrimento com suas crianças.

Pra meu espanto, a mulher ainda acrescentou que num momento de desespero pensou em fugir e deixar os filhos com o pai até se estabelecer em algum lugar, mas quando voltou de uma ida ao mercado, presenciou o marido molestando sua própria filha de 5 anos de idade, e nesse momento ela disse "se eu fosse embora, ele ia fazer da filha a mulher dele", e mediante àquela situação, resolveu ficar e defender seus filhos do monstro com o qual dividia a vida. Acrescentou que muitas vezes, quando o marido chegava bêbado ou drogado, ela se escondia no mato com suas crianças até o homem ir embora. Essa história se repetiu ano após ano, e só depois que todos os filhos estavam adultos teve coragem de sair daquela opressão. Foi ameaçada de morte, precisou de ajuda de filhos e parentes para ficar segura até o homem ficar doente demais e desistir de persegui-la.

Fiquei tão estarrecida e revoltada, que não tive palavras pra tentar sequer aliviar aquela dor que ela deixou transparecer em seus olhos. Me lembrei das inúmeras histórias semelhantes que ouvi de familiares, senhoras mais idosas e vizinhas. Foram muitas mulheres que se sujeitaram a esse tipo de violência porque não tinham a quem recorrer, e outras que escondiam seu sofrimento porque sabiam que se alguém tivesse conhecimento de sua angústia e tentasse interceder por elas, provavelmente teriam seus corpos e direitos violados de alguma forma.

Hoje temos a Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, que define os tipos de violências e defende a mulher contra qualquer tipo de abuso. Mas, infelizmente, ainda existem muitas mulheres que sofrem com a violência doméstica (física, psicológica, sexual, moral ou patrimonial) e não tem coragem de expor seu sofrimento para a sociedade. E porque existem tantas mulheres que passaram e ainda passam por essas situações? Por causa de homens, e mulheres também (no papel de mães, madrastas, tutoras, etc), que as vêem como propriedades e não pessoas.

Sinceramente, gostaria de não mais precisar ouvir esse tipo de relato, quero acreditar que nós mulheres estejamos mais bem amparadas constitucionalmente e civilmente para não precisar sofrer com esse tipo de situação. Sei que ainda existem muitas mulheres vítimas de algum tipo de violência, o meu desejo é que elas se levantem e deem o passo em busca de sua liberdade.

Um abço a tod@s
Por Priscila Messias

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